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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Programação Neurolinguística - PNL

A postagem de hoje é inspirada na prática que algumas pessoas têm de praticamente reverenciar essa PNL. Não que isso seja de todo ruim, mas a coisa se torna preocupante quando psicoidiotas psicoburros psicólogos de grandes empresas resolvem usar a PNL para determinar critérios para a contratação de profissionais, por exemplo. Nessa hora, torna-se importante saber se essa coisa toda realmente condiz com a realidade ou é só mais uma invencionice.

Deve-se também considerar as verdadeiras fortunas que os espertalhões especialistas dessa área cobram por suas palestras e seminários. Seria bom saber antes se isso é verdadeiro antes de pagar uma fábula para um curso desses.

Sempre digo que se uma determinada crença ou crendice fizer alguém se sentir bem e não prejudicar ninguém, muito bem que seja. Agora, uma vez que isso prejudique terceiros, me desculpem os crédulos, mas nesse caso é necessário que venha alguém e alerte que aquilo é um amontoado de lixo, caso realmente seja.

Pensando nos profissionais que já foram lesados por psicoretardados psicólogos de recrutamento, naqueles que pretendem desperdiçar investir dinheiro e tempo num seminário desses e outros mais, trago a vocês este texto sobre a PNL, extraído do site Skeptic´s Dictionary.

Como sempre, adiciono meus comentários em verde. Fiz também algumas mudanças no texto, traduzindo-o para o Português do Brasil.



Programação Neuro-Linguistica (PNL) é um tipo de treino transformacional da New Age, um programa de auto-ajuda, parte do movimento do potencial humano. Como tal, PNL é um competidor do Forum Landmark e de Tony Robbins e uma legião de empresas que, como os Sofistas da antiga Grécia, viajam de cidade em cidade ensinando a sua sabedoria por um preço. Robbins é provavelmente o mais bem sucedido "graduado" em PNL; pois, ele criou um império enquanto se transformava em um andante sobre o fogo (nas suas palavras) "a maior autoridade da nação em psicologia de realização pessoal, profissional e organizacional".

Mas, em adição a ser um agente para individuos saudáveis, a PNL é tambem usada como psicoterapia individual para problemas tão diversos como fobias e esquizofrenia.

Finalmente, noutro dos seus muitos papeis, PNL tambem afirma transformar empresas. Os defensores da PNL afirmam que ela se dirige a indivíduos saudáveis e empresas que pretendem atingir o seu máximo potencial e obter grandes sucessos. E há outros que afirmam que a PNL pode transformar os doentes e curar os afectados psicologicamente. Parece que tem algo para todos.

Não encontrei um artigo CIENTÍFICO que mostre um estudo sobre a eficácia do método. Apenas publicações em sites relacionados ao tema. Se alguém conhecer algum, poste o link nos comentários, por favor. Prometo dar a devida atenção.

Mas o que é exacamente a PNL? Boa pergunta mas dificil de responder. A PNL começou nos anos setenta com um cientista de matemática/computadores e um linguista que tinham interesse em:

(a) pessoas sucedidas na vida;

(b) psicologia, bem como em

(c) linguagem e

(d) progamação de computadores.

Embora seja dificil encontrar uma descrição consistente da PNL entre os que afirmam ser especialistas nela, uma metáfora aparece sistematicamente. A PNL afirma ajudar as pessoas a mudar ensinando-as a programar os seus cérebros. Foram-nos dados cérebros, diz-se, mas não o manual de instruções. "A PNL oferece-lhe um manual para o seu cérebro." Este manual parece ser uma metáfora para o trino da PNL, que é muitas vezes referida como "software para o cérebro". Mais, a PNL, consciente ou inconscientemente, baseia-se em:

(1) a noção de Freud do inconsciente e a sua influência no pensamento e ação conscientes;

(2) comportamento e linguagem metafóricos, especialmente baseado no método usado por Freud na Interpretação dos Sonhos e

(3) hipnoterapia, tal como a desenvolveu Milton Erickson. A PNL é tambem fortemente influenciada pelos trabalhos de Gregory Bateson e Noam Chomsky.

Na prática, PNL é muito difícil de definir porque há muita gente fazendo muitas coisas diferentes e a chamar-lhe PNL. Um ponto comum é a enfase em ensinar técnicas de comunicação e persuasão, e usar a auto-hipnose para ajudar a auto-motivação e a auto-mudança. A maioria dos praticantes de PNL anunciando na WWW faz grandes afirmações sobre conseguirem mudar quase tudo em qualquer um. O que se segue é tipico:

PNL pode alterar todos os aspectos da sua vida melhorando as suas relações como as pessoas queridas, aprendendo a ensinar, aumentando a sua auto-estima, maior motivação, melhor compreensão da comunicação, melhorando o seu negócio ou a sua carreira... e um imenso conjunto de outras coisas que envolvem o cérebro.

Alguns afirmam poder ensinar um método infalível de dizer quando uma pessoa está mentindo. Outros afirmam que uma pessoa falha apenas porque os seus professores não comunicaram com ela na "linguagem" correcta. Dizem que as pessoas teem diferentes "estilos de aprendizagem" e "estilos de pensamento". A razão de muitos falharem é os professores comunicarem usando os seus "estilos de pensamento" que não combina com o "estilo de aprendizagem" da pessoa. Ou seja, não há comunicação. Um professor bem sucedido é o que observa em pormenor e reconhece o estilo de aprendizagem de cada aluno e modifica então o seu ensino.  As administrações adoram isto, especialmente se lhes falar em cérebro direito e cérebro esquerdo. Mas onde estão as provas de algo como um "estilo de pensamento". Pelo que dizem, o incrivel é como alguem compreende outro. Ainda mais admirável é como tantas pessoas, cada uma com o seu estilo particular, conseguem respostas de seminários sobre PNL, compreender o suficiente sobre PNL antes de assinarem o quão benéfico o PNL é para eles e pagarem.

É-nos dito que

Uma das maiores descobertas da PNL é a de sistemas representacionais. Isto refere-se à representação interna da informação que entra no sitema através de um ou mais dos cinco sentidos. Representamos o mundo para nós mesmos através de imagens mentais, sons e construções espaciais.

Até ele se impressionou com essa.
Mas calma, gente. Não se deixem atingir nem entusiasmar com as definições. A cereja do bolo ainda está longe e agora as coisas vão começar a melhorar. Continuemos com o artigo.
Nada do que sabemos acerca do cérebro indica que o pensamento é tipicamente representacional. É invulgar que alguem pense principalmente em termos de imagens ou representações completas. Diferentes partes do cérebro estão envolvidas no pensamento e no processamento dos dados recebidos dos diferentes sentidos. Por exemplo, o lóbulo occipital é principalmente responsável pela visão. O tálamo contem centros nervosos responsáveis pelos reflexos ópticos e auditivos, bem como pelo equilibrio e postura. O hipotálamo é responsável pela manutenção e regulação do metabolismo, temperatura do corpo, e emoções que afectam o batimento do coração, apetite, excitação sexual e a pressão arterial. O lóbulo parietal é onde o processamento dos impulsos relacionado com o tacto ocorre, incluindo percepções de temperatura, textura, tamanho, forma e peso. O lóbulo temporal processa e correlaciona a audição e o olfacto. Que parte do cérebro é colocado em acção quando experimentamos algo, quer para efeitos de recordação quer de codificação, depende dos sentidos envolvidos na experiência. Sabemos mesmo que o estado emocional em que nos encontramos neste momento afecta o lado emotivo de uma recordação antiga. Estas coisas sobre o cérebro não foram descobertas pelos praticantes da PNL mas por neurocirurgiões que se basearam em estudos empíricos, não em intuições intimas, para chegarem aos resultados.

A PNL iniciou-se com Richard Bandler e John Grinder, nenhum dos quais deu qualquer contribuição para a neurologia, apesar das repetidas afirmações sobre a PNL ser capaz de reprogramar o cérebro. A PNL nada tem a ver com o estudo do cérebro. Tem a ver com o psiquismo das pessoas de modo a levá-las a controlar a sua vida e dando-lhes esperança, inspiração e alguma comunicação prática, modificação de comportamento e talentos motivacionais.

O First Institute of Neuro-Linguistic Programming™ and Design Human Engineering™ de Bandler tem a dizer o seguinte sobre a PNL:

Neuro-Linguistic Programming™ (NLP™) é definida como o estudo da estrutura da experiencia subjectiva e o que daí pode ser calculado e é redicado sobre a crença de que todo o comportamento tem estrutura... Neuro-Linguistic Programming™ foi especificamente criado de modo a permitir fazermos magia criando novos modos de compreender como a comunicação verbal e não verbal afeta o cérebro humano. Tal como se apresenta a todos nós a oportunidade não só de comunicar melhor com os outros, mas tambem aprender a ganhar mais controle sobre o que consideramos serem funções automáticas da nossa neurologia.
Controle de funções consideradas automáticas da nossa neurologia doeu lá no fundo. Seria a descoberta do século, ou do milênio! Pena que tudo o que temos seja a palavra deles...

É-nos dito que Bandler tomou como primeiros modelos Virginia Satir ("A Mãe da Terapia de Sistema Familiar"), Milton Erickson ("O Pai da Moderna Hipnoterapia") e Fritz Perls (antigo defensor da Terapia Gestalt) porque "tinham tido extraordinários resultados com os seus clientes". Os padrões linguísticos e comportamentais destas pessoas foram estudados e usados como modelos. Eram terapeutas que gostavam de expressões como "auto-estima", "validar", "transformação", "harmonia", "crescimento", "ecologia", "auto-realização", "mente inconsciente", "comunicação não-verbal", atingir o potencial mais elevado", expressões que são faróis da psicologia transformacional da New Age. Nenhum neurocientista ou alguem que tenha estudado o cérebro é mencionado como tendo qualquer influência na PNL. Por outro lado, alguem que não é mencionado, mas parece o modelo ideal para a PNL é Werner Erhard. Iniciou o est alguns quilômetros a norte (em São Francisco) de Bandler e Grinder (em Santa Cruz) apenas dois anos antes destes terem iniciado o seu negócio. Erhard parece ter-se dedicado ao mesmo que Bandler e Grinder: ajudar as pessoas a transformarem-se e viverem melhor. PNL e o est teem tambem em comum o terem sido construidos a partir de uma amálgama de fontes de psicologia, filosofia e outras disciplinas, com um brilhante marketing, oferecendo uma chave para o sucesso, felicidade e plenitude a qualquer um que se disponha a pagar o preço de entradas. Ninguem é reprovado nestas universidades!

Começou aí a primeira pista de que podemos estar tratando com uma pseudociência. Termos complicados, alguns com sentido modificado no contexto da disciplina, como veremos daqui a pouco e outros que só fazem sentido para os que mexem com isso. Alguém saberia dizer que diabos a ecologia tem a ver com essa coisa? A não ser, é claro, que esteja aí sendo usada em outro sentido.

E mais uma coisa: percebam que NENHUM neurologista ou outro profissional com o conhecimento adequado foi consultado. Ao que parece, só um bando de Zé Buchuda serviu como modelo para se criar essa tal de PNL.

Bandler afirma que continua a evoluir. Para alguns, contudo, ele parece mais interessado em proteger o seu império fazendo marca registada de cada bit da teoria. Parece extremamente preocupado que algum terapeuta possa roubar o seu trabalho sem lhe entregar a sua parte. Podemos ser caritativos e entender a obsessão de Bandler como um modo de proteger a integridade das suas descobertas sobre o potencial humano e como o vender. De qualquer modo, para clarificar áreas obscuras --sabe-se lá quais-- o que Bandler chama a "real thing" pode ser identificada por uma licença e a trademark™ de The Society of Neuro-Linguistic Programming™. Contudo, não contacte esta organização se quer informação clara e detalhada sobre a natureza da PNL ou DHE (Design Human Engineering™ que pretende "fortemente tornar-se uma hipnose high tech") ou a PE (Persuasion Engineering™) ou o MetaMaster Track™, ou o Charisma Enhancement, ou o Trancing, ou o que quer que o sr. Bandler e associados estejam vendendo neste momento. O que mais encontra nas páginas de Bandler é informação sobre como se inscrever numa sessão de treino. Por exemplo, pode obter um treino de 6 dias por 1.800 dólares à porta (1.500 se pago antecipadamente). E em que é que o treinam? Bandler tem ensinado sobre "o avanço da evolução humana" e passará para você esses ensinamentos. De acordo com os que promovem essas sessões, Bandler "tem ensinado profissionais em todos os campos a dominar a sua área". Design Human Engineering™ é a combinação de Richard sobre como "como fazer reengenharia ao seu cérebro de modo a estar no seu melhor, pura e simplesmente". Mas para quê estas sessões de 5 dias, quando investindo apenas 6 dias e 3.000 dólares você mesmo se pode tornar um Practitioner™! Melhor negócio, contudo, é o certificado de Master Practitioner™ por mais 500 dólares e mais dois dias. Se isso requer demasiado do seu precioso tempo, pode inscrever-se para treinador em em Charisma Enhancement por uns meros 2,500 dólares e ter o certificado (ou certificável™? ) em apenas 6 dias!

Quando se lê o que Bandler diz, somos levados a pensar que algumas pessoas se inscrevem só para conseguir traduzir o que ele escreve:

Um dos modelos que construí chama-se elicitação estratégica que é algo que as pessoas confundem com modelar sem finalidade. Eles vão e elicitam uma estratégia e pensam que estão a modelar mas não se perguntam, "Donde veio este modelo de elicitação estratégica?" Há restrições neste modelo visto ter sido construido para reduzir os parametros. O modelo de elicitação estratégica está sempre tentando o modo mais finito de conseguir um resultado. Este modelo baseia-se na elicitação sequencial e instalação simultânea. [R. Bandler]
E tem gente que embarca numa dessas...
Se alguém conseguir de cara entender essa gororoba, essa diarreia mental de Bandler, por favor traduza. Novamente, mais uma marca registrada das pseudociências. Discurso complicado, mascarado com formalismo da ciência e um vocabulário próprio. Para que isso, posso saber?
Acho que concordam que com comunicação como esta, Bandler deve ter um código muito especial para programar o cérebro.

Com certeza. Precisa reprogramar toda a compreensão do idioma para engolir esses discursos.

John Grinder, por outro lado, foi tentar fazer no mundo empresarial o que Bandler está fazendo conosco. Juntou-se a Carmen Bostic St Clair (Por favor, nada de trocadilhos) numa organização chamada Quantum Leap, "uma organização internacional tratando do design e implementação do cruzamento cultural de sistemas de comunicação." Como Bandler, Grinder afirma ter evoluído para novos e ainda mais brilhantes  "códigos".

...o Novo Código contem uma série de portas que pressupoem uma certa e, a meu ver, apropriadas relações entre as partes consciente e inconsciente da uma pessoa supondo o treino ou a representação da PNL. Isto leva a insistir na presença de coerência pessoal em tal pessoa. Por outras palavras, uma pessoa que falha essa coerência encontra-se incapaz de usar e/ou ensinar os padrões do Novo Código com algum sucesso consistente. Isto é algo que me agrada - tem a característica de um sistema auto-corretivo.
Que confusão, não? O que é que essa gente tem contra a clareza e a objetividade?

Podem alguns notar que termos como "coerência pessoal" não são precisos nem científicos. Isto deve-se talvez a Grinder ter criado um "novo paradigma". Ou diz ele. Ele nega que o seu trabalho ou o de Bandler seja um monte eclético de noções de filosofia e psicologia, ou mesmo de que construiram sobre trabalhos de outros. Ele e Bandler dizem ter "criado um paradigma de deslocamento". Mas antes de examinar o chamado "paradigma de deslocamento" quero apontar que não havia nenhum respeitante ao papel da chamada "mente inconsciente" no pensamento, desejo e comportamento humanos.

A PNL aceita a noção de uma mente inconsciente que é um reservatório de ideias e desejos de que não temos consciencia e que constantemente nos afetam o comportamento, limitando-o. Tambem aceitam o papel da hipnose como uma ferramenta dinâminca para penetrar a mente inconsciente. Grinder afirma mesmo que "O inconsciente não contém substantivos, apenas verbos..." Podemos perguntar, onde está a mente inconsciente localizada no cérebro? Tal entidade com o seu reservatório não foi empiricamente estabelecida. O que sabemos é que não existe um momento em que todos os neurônios estão disparando ao mesmo tempo. Há sempre partes calmas, inativas no cérebro. Em certas áreas há fragmentos de memórias de que não estamos conscientes. Esses fragmentos não são substantivos, nem verbos, mas neuroquimicos. Substantivos podem trazer medos mesmo se uma pessoa não está consciente nem se recorda do porquê. Schacter (1996) conta a história de uma mulher que foi violada e brutalizada até à inconsciência e não se lembrava de ter sido violada. A violação ocorreu num pátio de tijolo. Apesar de não recodar a violência, a palavra "tijolo" trazia-lhe medo e ansiedade. Este não é um caso de amnésia provocada pela repressão de uma experiência traumática. É o caso de alguem posta inconsciente e portanto incapaz de codificar uma experiência completa. A afirmação de que "o inconsciente não tem substantivos, só verbos..." é psicotreta. As pessoas que fazem tais afirmações devem ser aproximadas com cuidado. De igual modo, as afirmações seguintes feitas por Grinder sobre uma sessão de treino que deu na Australia chamada Metáforas e Borboletas devem ser tomadas com um grão de sal.

Os beneficios que tiro do seminário Metáforas e Borboletas apresentado por Carmen Bostic e John Grinder na Australia em Março de 1997 seria:

a capacidade de reconhecer metáforas profundas na minha própria vida, nas vidas dos meus próximos e em organizações tais como a companhia em que trabalho;

a capacidade de criar novas metáforas que carreguem os valores e associações ao nivel inconsciente que quero melhorar em mim, as pessoas próximas e a organização na qual opero como membro produtivo da sociedade;

a capacidade de influenciar outros no nivel inconsciente através de metáforas;

a sensação de passar um ótimo tempo enquanto aprendo tudo isto.

As minhas memórias acerca do que pensámos na época da descoberta (respeitante ao código clássico que desenvolvemos - ou seja, os anos de 1973 a 1978) eram que estávamos explicitamente tentando derrubar um paradigma e que eu, por exemplo, achei muito útil para planejar essa campanha e usar em parte o excelente trabalho de Thomas Kuhn (The Structure of Scientific Revolutions) em que detalha algumas das condições em que historicamente se obtiveram paradigmas de deslocamento. Por exemplo, acredito que foi muito util nenhum de nós ser qualificado na área em que nos debruçámos- psicologia e em particular, a sua aplicação terapeutica; isto era uma das condições que Kuhn identificava no seu estudo. Quem sabe o que Bandler pensava?
Perceberam como ele fala, fala e no final, não diz nada? E aunda por cima, alega que foi bom não ter nenhuma qualificação em psicologia, área que estava fazendo pesquisas. Alguém diga a esse homem que a opinião de profissionais no assunto é sempre uma boa pedida. Mas deixe estar. Badler é científico, eu não...

Podemos apenas esperar que ele não estava pensando o mesmo que Grinder, em particular a referência ao clássico de Kuhn, especialmente se ele lê que Kuhn afirma que não ser particularmente qualificado num campo como uma condição significativa para a contribuição para o desenvolvimento de um novo paradigma em ciência. Mais, Kuhn não forneceu um modelo para criar paradigmas de deslocamento! O seu é um trabalho histórico, descrevendo o que ele acredita ter ocorrido na história da ciência. Em nenhum lugar ele indica que uma pessoa em tempo algum criou, ou podia criar, um paradigma de deslocamento na ciência. Individuos como Newton ou Einstein podem apresentar teorias que requerem paradigmas de deslocamento para serem adequadamente compreendidas, mas eles não criam o paradigma. O trabalho de Kuhn implica que tal noção não faz sentido.

Grinder e Bandler devem ter lido Kant antes de partirem para a sua pesquisa quixotesca. "Revolução Coperniana" de Kant" pode ser considerado um paradigma de deslocamento por Bandler e Grinder, mas não é disso que Kuhn falava quando descrevia o desenvolvimento histórico das teorias cientificas. Kuhn restringiu a sua atenção à ciência. Não fez qualquer afirmação de que algo similar aconteça na filosofia e muito menos que qualquer coisa que a PNL faça constitua um paradigma de deslocamento. Kuhn afirma que esses deslocamentos acontecem com o tempo, quando uma teoria falha e é substituida por outra. Elas falham, afirma ele, quando novos dados não podem ser explicados pela velha teoria ou não explicam as coisas tão bem como a nova teoria. O que Bandler e Grinder fizeram não foi em resposta a nenhuma crise em nenhuma teoria em nenhum campo científico e não podem ser considerados como contribuindo para um paradigma de deslocamento, muito menos serem um.

O que Grinder parece pensar que para Kuhn significa "paradigma de deslocamento" é algo como um deslocamento gestalt, uma mudança na maneira como olhamos para as coisas, uma mudança na perspectiva. Kant podia apresentar a fatura por esta noção. Kant rejeitou o velho modo de fazer epistemologia, que era perguntar "como podemos chegar a compreender o mundo?". O que devíamos perguntar, disse Kant, era "como é que o mundo pode ser compreendido por nós?". Isto é um movimento revolucionário na história da filosofia, pois afirma que o mundo se deve conformar com as condições impostas nele pela nossa experiência do mundo. A noção de que temos a verdade quando a nossa mente se conforma ao mundo é rejeitada a favor da noção de que todo o conhecimento é subjetivo pois é impossivel sem experiência, que é essencialmente subjetiva. Copérnico tinha dito, em essência, vamos ver como ficam as coisas com o Sol no centro do universo, em vez da Terra. Kant disse, em essência, vamos examinar como fica o mundo assumindo que o mundo tem se ser conforme à mente, em vez da mente conformar-se ao mundo. Copérnico, contudo, pode ser considerado como contribuindo para um paradigma de deslocamento na ciência. Se estivesse certo, e estava, os astrônomos não poderiam mais fazer astronomia sem mudanças profundas nos seus conceitos fundamentaia sobre a natureza dos céus. Por outro lado, não há maneira de saber se Kant tinha razão. Podemos aceitar ou rejeitar a sua teoria. Podemos continuar a fazer filosofia sem ser-mos kantianos, mas não podemos continuar a fazer astronomia sem aceitar a hipótese heliocentrica e rejeitando a geocentrica. O que fizeram Grinder e Bandler torna impossível continuar a praticar psicologia, terapia, semiótica, filosofia, sem aceitarmos as suas ideias? Não.

Numa nota mais leve, Bandler está a processar Grinder em 12,5 milhões de dólares. Aparentemente, os dois grandes comunicadores e inovadores paradigmáticos não seguiram os seus conselhos ou modelaram o seu comportamento seguindo outros grandes Americanos que descobriram que a mais lucrativa forma de comunicar é processando alguem com os bolsos fundos. Grinder publicou uma declaração na WWW àcerca deste deafortunado assunto. A PNL é boa em metáforas mas duvido que este tipo de processos sejam o tipo de metáforas porque querem ser recordados. Bandler colocar marca registada numa duzia de expressões é sinal de que quer proteger a integridade da PNL ou sinal de megalomania?

Qualquer que fosse o objetivo de Bandler e Grinder, ele foi expandido por numerosas pessoas fazendo afirmações sobre PNL. Tudo o que se encontra de comum entre essas pessoas é que pensam que a PNL as pode ajudar, ou que podem usar a PNL para ajudar outros, a fazer seja o que for. Para lá disso, o resto está cheio de contradições. É dito ser o estudo da estrutura da experiência subjetiva, mas é dada muita atenção ao comportamento, especialmente ao linguistico e à chamada linguagem corporal das pessoas.

Linguagem corporal é um dos assuntos que mais me causam náusea. Já discuti com dois psicoidiotas psicólogos sobre o assunto e acabei saindo vencedor em ambas as discussões. Mas não é esse o assuntodo texto. Só quis fazer este adendo para mostrar que existe pelo menos uma maçã podre nese cesto.

Se se torna adepto da PNL passa a dizer coisas como "o mapa não é o território" e "vida e mente são processos sistemáticos". Atualmente, do que se consegue ver, PNL significa o que se quiser. Há demasiadas pessoas a fazerem muitas afirmações diferentes e a fazerem coisas diferentes, todas se referindo ao PNL. Pode ser que a maioria seja uma fraude e seja por isso que existe tanta confusão sobre o que a PNL é. Ou estejam apenas a usar Bandler como modelo. Viram a estrutura do seu comportamento e desenvolveram técnicas como o seu mestre.

Ou então, seja novamente um indício de que se trata de uma pseudociência, a falta de consenso entre os "profissionais". Algo só é considerado ciência após testado e comprovado, inclusive com a reprodução dos testes. E é estranho que cada um faça as coisas da PNL modificando-as a seu bel-prazer. Em qualquer ramo da ciência é fato sabido que se qualquer dos fatores for modificado, os resultados podem até sair diametralmente opostos ao que seria esperado.

E tome-lhe aí mais uma catarrada de jargões que no fim, só os "iniciados" entenderão.

Enquanto não duvido de que muitas pessoas beneficiem das sessões de treino, parecem existir assunções falsas e questionáveis sobre as quais a PNL se baseia. As crenças acerca da mente inconsciente, hipnose e a capacidade de influenciar as pessoas apelando diretamente ao inconsciente não são consubtanciadas. Toda a evidência científica sobre estes pontos indicam que as afirmações da PNL não são verdadeiras. Não se pode aprender a "falar directamente à mente inconsciente" como a NLP afirma.

A PNL afirma que os seus especialistas estudaram o pensamentos dos grandes modelos e os padrões de comportamento de pessoas bem sucedidas e daí extraíram modelos de como funcionam. "Destes modelos, foram desenvolvidas técnicas para rápida e eficazmente mudar pensamentos, comportamentos e crenças que se intrometem." Mas estudar Einstein ou Tolstoy pode produzir duzias de "modelos" de como essas mentes funcionavam. Não há hipótese de saber qual, se algum, desses modelos é correcto. É um mistério como pode alguem supor  que qualquer modelo implica técnicas para a rápida e efectiva mudança nos pensamentos, ações e crenças. Intuitivamente qualquer um de nós sabe que se fossemos sujeitos às mesmas experiências que Einstein ou Tolstoy tiveram, não nos tornaríamos neles. Certamente que seríamos diferentes do que somos, mas sem os cérebros deles para começar, tornar-nos-íamos bastante diferentes deles.

A PNL tambem afirma compreender a comunicação não-verbal- a chamada "linguagem corporal"- e afirma poder treinar qualquer um a compreendê-la. Mas não há mais estrutura comum na comunicação não-verbal do que na interpretação dos sonhos. Há formas definidas culturalmente de comunicação não-verbal, acenar com a mão, apontar a alguem o punho fechado, significam algo na cultura nacional. Mas se alguem me diz que o modo como coço o nariz durante uma conversa significa que estou a assinalar que penso que as suas ideias cheiram mal, como verifico se a interpretação dele está correecta ou não? Nego-o. Ele conhece a estrutura, afirma. Conhece o significado. Não tenho consciencia dos meus sinais, diz, porque a mensagem vem do meu inconsciente. Como testamos este tipo de afirmações? Não podemos. Eu digo que não existe uma "mente inconsciente" que controla os meus gestos para indicar os meus "verdadeiros" sentimentos. Quais as provas dele? Tem de ser a sua mente brilhante porque não há provas empiricas que suportem estas afirmações. Sentar-se de braços cruzados pode não significar que está a "bloquear alguem" ou "na defensiva". Pode apenas estar com frio ou apenas sentir-se confortável nessa posição. É perigoso ler demasiado num comportamento não-verbal. Pernas estendidas podem indicar apenas uma pessoa relaxada, não um convite ao sexo. Ao mesmo tempo, muito do que a PNL ensina é fazer leitura fria É valioso, mas uma arte não é uma ciência, e deve ser usada com cuidado.
Alguns praticantes e defensores da PNL manteem-se fieis às origens. Por exemplo, existe uma FAQ sobre PNLP mantida por Dale Kirby, que dá dela a seguinte definição:

 PNL (Programação NeuroLinguistica) é um conjunto em evolução de modelos, pressupostos, padrões, técnicas e teorias baseadas na observação resultantes do estudo da estrutura de experiências subjectivas, comportamento e comunicação. Para lá da compreensão, a PNL procura remediar e gerar mudanças rápida e ecologicamente.

O autor resumiu bem o que penso sobre essas coisas. E foi essa uma das brigas com a psicóloga que tive. Ela insistia comigo porque eu havia cruzado os braços e que aquilo significava que estava contra o que ela dizia. Respondi que não, que a interpretação estava errada. Só os cruzara porque estava desconfortável ficar sentado com os braços pendurados, uma vez que a cadeira não tinha descanso para eles. Como tenho barriga avantajada, achei mais confortável manter os braços cruzados sobre ela.
Devo admitir que o sr. Kirby está correcto: está para lá da compreensão afirmar que algo "procura remediar e gerar mudanças rápida e ecologicamente". Procurar provocar mudanças é compreensivel. Remediar significa que algo está errado e necessita de remédio. Antes de procurar mudar algo, devemos primeiro estabelecer que a mudança é necessária ou mais util que inutil. A mudança pode ser desejável, se o que produz é melhor que o que existia antes. De outro modo, é indesejável. Mudanças rápidas seriam desejáveis se todas as coisas fossem iguais, o que raramente acontece. Sob muitas circunstancias, uma mudança gradual pode ser preferivel a uma mudança rápida. Fazer isto ecologicalmente é ininteligivel, apesar de desconfiar que tem a ver com "holístico" ou "orgânico" e é usada pelo seu assumido conteudo emotivo positivo.

Vai entender o porquê de usar esse termo. Ecologicamente???? Ele quer mudar sua mente sem agredir a natureza? Por favor, nada de jargões, senão eu não compro.

A PNL parece procurar algo que pode não ser necessário ou desejável de um modo que não pode ser compreendido. Para aumentar a ininteligibilidade, o sr. Kirby informa-nos que um dos pressupostos da PNL é "Ninguem está errado." Então para quê procurar mudar? Por outro lado, o que o sr. Kirby tem a dizer que é inteligivel não é muito atractivo. Por exemplo, afirma que de acordo com a PNL "Não existe uma coisa como falhanço. Há apenas feedback." A PNL foi inventada por militares para explicar os seus "sucessos incompletos "? Quando o space shuttle explodiu, matando todos a bordo, isso era "apenas feedback"? Se apunhalar o meu vizinho e lhe chamar "realizar cirurgia não-eletiva" estou praticando PNL?

Outro pressuposto da PNL que é falso é "Se alguem pode fazer algo, qualquer um pode aprendê-lo.". Isto é dito por pessoas que afirmam que compreendem o cérebro e o podem ajudar a reprogramar o seu. A unica coisa que me separa de Einstein ou Pavarotti é a PNL. Estas afirmações são ridículas. Sugiro que antes de se inscrever numa sessão PNL leia o trabalho de um bom neurologista como Oliver Sacks. Ainda mais importante, sugiro que pergunte "Quem quero ser?" em vez de "Que quero ser?" Criar o seu eu moral deve ser o seu objectivo primeiro. Decidir com que valores quer viver deve preceder qualquer preocupação sobre atingir "sucesso". Se não foi afortunado com pais ou avós que servissem de modelos morais, sugiro que comece com o modelo de Socrates como apresentado por Platão nas Apology, Crito e Phaedo.

A especialista de PNL Diana Beavers diz que "a PNL é por vezes chamada o Estudo da Estrutura da Excelência - um grande título para descobrir como está pensando quando está no seu melhor, de modo a pensar desse modo sempre que queira - e estar no seu melhor sempre que queira: em qualquer campo que escolha." Não sei sobre os outros, mas sei que o modo como pensamos melhor ou pior depende de uma série de coisas que não dependem de nós. A quimica do seu cérebro está largamente fora do seu controle, a não ser que tome drogas que afetem o seu sistema neuroquimico. O seu corpo influencia a sua capacidade de pensar e nem sempre pode depender do seu corpo estar num estado ótimo. Hormônios vão e veem; neurotransmissores fazem a sua dança. Pode influenciar só por comer bem, ter cuidado com o corpo, e imitando modelos. E ignorar a realidade das diferenças nas capacidades afirmando que pode programar o seu cérebro para estar no melhor no que quer que escolha é uma atitude infantil cuja unica virtude é a inocência. Por outro lado, eliminar influências negativas e cercar-se de quem o possa ajudar a atingir um objectivo é um bom conselho.

Parece que a PNL desenvolve modelos que não podem ser verificados, dos quais desenvolve técnicas que podem nada ter a haver com os modelos ou a origem dos modelos. E faz afirmações sobre o pensamento e a percepção que não parecem suportadas pela neurologia. Não quer dizer que as técnicas não funcionem. Podem funcionar, e bem, mas não há maneira de saber se as afirmações na sua base são válidas. Talvez nem interesse. A própria PNL proclama que é pragmática na sua aproximação: o que importa é se funciona ou não. Porem, como medimos se a PNL "funciona"? Não sei, e penso que nenhum PNLista o sabe. Testemunhos parecem ser o principal instrumento de medida. Infelizmente, tal medida pode revelar apenas que os treinadores são bons a persuadir os clientes a inscreverem-se em mais sessões de treino.

A chamada "Evidência anedótica". Testemunhos nem sempre são confiáveis. Claro que um médico precisa delas, por exemplo, para saber como o paciente se sente ou qual foi o efeito do remédio. Agora, usar esses depoimentos para julgar se o método funciona, acho insuficiente.

A PNL é vista como dando às pessoas poderes afins da magia. Claro que não é verdadeira mágica; apenas aparenta isso aos crentes. A PNL intitula-se uma forma de auto-desenvolvimento e de auto-ajuda, pelo que não é dificil ver quem se sente atraido por ela: o mesmo tipo de pessoas para quem caminhar sobre brasas é algo de significativo na vitória da mente sobre a matéria em vez de uma simples questão de fisica. Há pessoas que parecem procurar um topo nas relações, vendas, esporte, vida, qualquer coisa. Procuram alguem que revele o seu gênio escondido, o poder, alguem que os motive e os treine ao longo da vida e fazê-lo rapidamente por um preço apropriado. Alguns talvez procurem mesmo um milagre. Espero que encontrem o que procuram.

NOTA:

Depois de tudo isso, não sei como é que grandes empresas ainda contratam esses treinamentos para seus funcionários e particulares investem uma grana nessa coisa aí. Mas o pior é o que mencionei anteriormente, é o fato de ainda haverem profissionais da psicologia utilizando essa pseudociência em  processos de seleção de candidatos e treinamentos.

Ainda que sejam boas fontes de motivação, existem seminários motivacionais e verdadeiros profissionais nessa área. PNL ainda me soa como um mal desnecessário, assim como as outras pseudociências.

2 comentários:

  1. Obrigado pela abordagem inteligente sobre o tema, mas discordo de você em alguns pontos: (ressaltando que não pratico ou vendo pnl, só ouvi falar de um curso, me interessei e resolvi pesquisar sobre).
    1. O fato de a linguagem complexa exigir uma "iniciação" no tema para que se compreenda o que é dito não necessariamente indica que pnl é uma pseudociência, quando se chega a uma certa profundidade de conhecimento jargões são necessários. Por exemplo, eu curso medicina, tem vários textos que não é possível a pessoas de áreas que não sejam da saúde entender (assim como acredito que haja em outras áreas também).
    2. O fato de diferentes autoridades sobre o tema discordarem (muito) em temas aparentemente básicos não necessariamente quer dizer que seja uma pseudociência, nutrólogos e dermatologistas discordam quanto tempo é necessário passar ao sol por dia e em que horas fazer isso. Nem por isso a medicina é uma pseudociência. O fato de autoidades no tema discordarem só significa que ainda há muita coisa a se descobrir/compreender sobre tema

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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