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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pálido ponto azul - Carl Sagan

Há dias vinha pensando no que postar. Hoje, não sei por que, acordei emotivo e decidi postar uma história já bem conhecida de muitos. É a histporia dessa foto e desse nome tão estranho à primeira vista, a do famoso Pálido Ponto Azul.

O texto foi proferido em uma conferência no dia 11 de maio de 1996 por nada menos que Carl Sagan. Não me recordo exatamente em qual dos episódios, mas ele também cita essa fotografia na série Cosmos. Vou procurar saber e quando postar o referido episódio, colocarei um aviso. Com a narração de Sagan, fica ainda mais emocionante.

A foto em si foi tirada no dia 14 de fevereiro de 1990, quando a Voyager 1 completou sua missão inicial.Foi enviado um comando à nave para que virasse a câmera e fotografasse os planetas pelos quais passou. Se não me falha a memória, a localização era um pouco depois da órbita de Netuno. Em números, ela estava a 6,4 bilhões de quilômetros de distância.

Uma das imagens foi a que estamos discutindo, a que ilustra esta postagem. Dentro do círculo em azul está a Terra e um pouco abaixo, a Lua quase imperceptível. Os riscos que aparecem são raios de Sol que atingiam a câmera. Poeticamente, Sagan referiu-se a isso que é como se nosso planeta estivesse nessa fotografia sendo protegido e amparado por um raio solar, tal que é sua fragilidade.

A seguir, o texto falado por Carl Sagan:


Pálido ponto azul

Carl Sagan

Conseguimos tirar esta foto lá do espaço profundo. Olhando para ela, você vê um ponto. Esse ponto é aqui. É a nossa casa. Somos nós. Foi lá que todos que você conheceu, todos a quem você ama, todos aqueles de quem você já ouviu falar, todos os seres humanos que já existiram, viveram suas vidas.

Aqui está o conjunto de todas as nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões cheias de certezas, ideologias e doutrinas econômicas. Cada caçador e coletor, cada herói ou covarde, cada criador e destruidor de civilizações, cada rei e camponês, cada casal de jovens apaixonados, cada criança cheia de esperanças, cada mãe e pai, cada inventor ou explorador, cada exemplo de moralidade, cada político corrupto, cada superastro, cada líder supremo, cada santo e pecador na história de nossa espécie, viveu aqui - num grão de poeira suspenso num raio de sol.

A Terra é um palco minúsculo numa vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores que queriam se tornar os donos temporários, cheios de glória e triunfo, de uma fração de um pontinho. Pense nas crueldades sem fim que os habitantes de um canto do pontinho inflingiram aos habitantes de algum outro canto do pontinho, praticamente indistinguíveis deles. Quantas vezes se desentenderam, que ânsia de se matarem uns aos outros, quanto ódio.

Nossa vaidade, nossa imaginária importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no universo, tudo isto é contestado por este ponto de luz pálida.

Nosso planeta é um grãozinho solitário envolvido pela grande escuridão cósmica. Na nossa insignificância, em toda esta vastidão, nada indica que virá ajuda de outro lugar para nos salvar de nós mesmos. Só podemos contar conosco.

Já disseram que a astronomia é uma experiência que destrói nosso orgulho e, eu diria, que constrói nosso carater. Na minha opinião, não há demonstração melhor da loucura dos preconceitos humanos que esta visão distante de nosso pequeno mundo. Para mim, ela deixa clara nossa responsabilidade em tratarmos uns aos outros com mais gentileza e compaixão e preservar e cuidar bem deste pálido ponto azul, o único lar que conhecemos.

Sempre me emociono ao ler esse texto. Espero que tenha tocado a todos que o lerem também, principalmente no contexto atual, em que a preservação de nosso mundo é um tema tão atual.

Um comentário:

  1. Eu trabalhava em uma escola municipal aqui de Curitiba, quando a diretora me chamou na sala dela. Enquanto conversávamos, vi algumas fitas de vídeo cassete em uma sacola, no chão. Perguntei o que era, e ela disse que era doação de uma videolocadora que estava falindo, e que se eu quisesse poderia levar para casa, porque ela tinha decidido jogar fora. Quando olhei as fitas e vi o nome de Carl Sagan, logo peguei para levar para o meu armário. Era a série "Cosmos" quase completa, faltando apenas o episódio 9. Eu já tinho lido alguma coisa sobre o autor, depois de assistir ao filme "Contato", baseado em um livro de Sagan. Cinco dias depois, um amigo me deu a série toda em DVD, era um relançamento de quando a série fez 25 anos. E no dia seguinte, eu estava perambulando pelo centro da cidade, entrei em um sebo, e o primeiro livro que vi foi Cosmos. Caminhei apressado para a prateleira, com receio de outra pessoa chegar antes. Peguei o livro, folheei. Muitas figuras, letra grande, 350 páginas, papel mais parecido com papel de revista, só que mais consistente, capa dura, excelente estado. Olhei o preço na contracapa, 30 reais. Na hora paguei e saí feliz. Um livro como esse não se acha em qualquer lugar, na livraria não tem, pois é de 1980. Mesmo assim, continua atual. O engraçado é que, quando cheguei em casa, fui logo mostrar para a minha irmã, orgulhoso da minha aquisição. Ela não tem hábito de leitura, e quando soube o valor que paguei, quase surtou, dizendo que eu era louco por, segundo ela, "gastar tanto em um livro velho". Perguntei quanto ela achava que valia, ela disse que não pagaria mais de 2 reais. Injustiça dela. Bem, gosto do seu blogue, e acho interessante que você tenha postado alguns episódios de Cosmos. Você afirmou que, ao mudar de página na web, postaria novamente alguns textos do seu blogue anterior. Se me permite sugerir, eu gostaria que você republicasse o "Guia das falácias" e também o "Big Bang para principiantes". Tenha uma boa noite.

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